Devemos recorrer mais vezes a Deus do que ao
físico.
Vivam para Deus ou então vivam para o homem.
Obsessores
Os obsessores do plano físico por vezes
continuam no plano espiritual , ex.: entidades negativas que se vê atormentando
André Luiz quando este está no Umbral no filme nosso lar.
Eram obsessores que atormentavam ele quando ia
nos bares , por alguma razão os obsessores o culpam.
Também fazemos sofrer os obsessores se em vez
de ajudar-mos , incentivarmos mais.
Estavam a dizer-lhe sai-a de aqui pois não queriam
a presença dele , pois fez-lhes de alguma forma mal.
Outra justificação seria que quando estava
vivo tentaram leva-lo para outros caminhos mais sombrios sem sucesso, podem não
estar contentes à causa disso.
André Luiz
Quando chegou ao Nosso Lar os superiores
sabiam no que André Luiz se podia tornar.
Mais tarde André Luiz se tornou um mensageiro
, mas sobretudo médico espiritual.
Socorreu um dia, quando em aprendizagem um
moço que se chamava Fernando , estava muito doente , com lepra.
O superior , Aniseto , que conseguia por ele
só fazer raio x, durante esse trabalho deu possibilidade a André Luiz e a
Vincente , igualmente médico
desencarnado, de verem o mesmo que ele .
Conseguiram ver a forma como a doença estava a
atuar no corpo , nos menores pormenores.
Os familiares de Fernando queriam que o moço
vivesse quando já não havia possibilidades para tal.
Muitas vezes os laços de maternidade devem ser
cortados para removerem o espírito do interior do corpo.
É necessário cortar correntes familiares durante
o desencarne pois essa energia não é favorável porque contribui com que o espirito
persista no corpo quando este tem que ser liberto.
Acabaram por ter que desencarnar a pessoa.
O médico físico disse que ele estava
melhorando , mandou abrir a janela , para renovar o ar.
Foram melhoras da mente para quem estava perto
do doente se ausentar de modo às entidades puderam trabalhar.
Muitas vezes a própria pessoa que esta para
morrer diz “vai descansar , vai embora , estou bem ”.
Vamos ter muito tempo de ficar na eternidade
com as pessoas. Temos que saber liberta-las quando a hora chega.
Quando a abertura da janela , André Luiz olhou
para trás e viu duas entidades com forma satânica.
Estavam na janela , perguntando alto “Fernando
vem ou não vem?” , essas entidades eram testemunhas do moço, ou seja tinham
presenciado certas coisas que o moço tinha feito de errado durante a vida.
O Superior , olhou para eles com um olhar que as afastou. A mãe do moço
doente , que já estava morta esteve presente, disse que gostava mas que não
poderia ficar. A mãe não podia ficar com ele porque estava na zona superior e
ele ia para o Umbral.
Assim que Aniceto procedeu ao desligamento do
corpo espiritual , a mãe se afastou e foi embora. Eles encaminharam o moço numa
Camara onde as entidades negativas vão, até perceberem o que tinha feito de
mal, para em seguida libertarem no Umbral. Foi ai que André Luiz e Vincente ,
perceberam que a medicina que eles conheceram na terra , nada era comparado ao
que Aniseto conseguia fazer. Perceberam então a diferença entre médico físico e
espiritual.
A medicina espiritual consiste em raciocínios
e sentimentos novos , novos métodos de trabalho, com o objetivo de estabelecer
a saúde do espírito imortal.
Durante a palestra , foram lidos no recinto
certos capítulos de Os Mensageiros , de Chico Xavier , aqui transcritos.
51
Nas despedidas
Depois de
outras atividades espirituais numerosas, findou a semana de serviço a que
Aniceto nos admitira em sua companhia.
Seguíramos o
nobre instrutor, através de tarefas variadas e complexas. Sediados no templo
acolhedor de Isabel, atendêramos a considerável número de doentes, bem como a
irmãos outros perturbados, abatidos, transviados e moribundos. Nosso orientador
tinha, para todos os casos, maravilhosos recursos de improvisação, sempre atencioso
e otimista.
Aqueles
poucos dias de trabalho novo encheram-me o cérebro de raciocínios novos e o
coração de sentimentos que até então desconhecera.
Ao contacto
das revelações de Aniceto, nos domínios da eletricidade e do magnetismo,
reformara todos os meus antigos conhecimentos de medicina. A ascendência mental
no equilíbrio orgânico, as forças radioativas, o campo das bactérias, a visão
mais ampla da matéria organizada, compeliam-me a nova conceituação científica
na arte de curar os corpos enfermos.
Alargara-se,
sobretudo, em minha alma, o entendimento acerca do Médico Divino que
restabelece a saúde do Espírito imortal. A claridade extensa, que me felicitava
agora o espírito, fornecia mais largo conhecimento de Jesus. Compreendi, então,
que a fé não constitui uma afirmativa de lábios, nem uma adesão de ordem
estatística. Procurá-la-ia, em vão, na esfera sectária, nas disputas vulgares,
nos cultos exteriores alteráveis todos os dias. Era, sim, uma fonte de água
viva, nascendo espontaneamente em minha alma. Traduzia-se em reverência
profunda, aliada ao mais alto conceito de serviço e responsabilidade, diante
das sublimes concessões do Eterno Pai. Encontrara um tesouro inacessível à destruição
e um bem Intransferível, por nascido e consolidado em mim mesmo.
Quando o
instrutor nos convidou a regressar, sentia-me positivamente outro. Guardava a
impressão de haver encontrado as notícias diretas do Senhor Jesus, na
descoberta do meu próprio mundo interior.
Como poderia
pagar ao prestimoso Aniceto semelhante capitalização de bens imortais?
Havia
terminado o serviço de orações, na última reunião semanal da residência de
Isidoro e Isabel.
Os trabalhos,
sempre ativos, haviam representado esfera de observações e experiências sempre
novas.
Grande número
de amigos de Aniceto acercaram-se do instrutor, ansiosos por partilharem a luz
da conversação de despedidas.
O devotado
orientador oferecia a todos a sua palavra de bom ânimo, otimismo, alegria e
confiança no Senhor, como um príncipe de legenda, cuja boca fosse fonte
inesgotável de ouro espiritual.
Vicente e eu
tínhamos os olhos húmidos, desejosos de externar-lhe verbalmente nosso
reconhecimento pelas bênçãos recolhidas; mas, ao nos aproximarmos, o abnegado
orientador sorriu e antecipou:
— Agradeçam a
Jesus pelo muito que nos tem dado.
E tomando a
Bíblia, como Interessado em fixar o assunto geral no amor às coisas
santificadas, leu em voz alta, no capítulo segundo dos Provérbios de Salomão:
— “Filho meu, se aceitares as minhas palavras e
guardares contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu
ouvido e para inclinares o teu coração ao entendimento; e se clamares por
entendimento, e por inteligência alçares a tua voz, se como a prata a buscares
e como a tesouros ocultos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e
acharás o conhecimento de Deus.” (1)
Deixou em
seguida o livro sagrado sobre a mesa, e sentenciou:
— Lembremo-nos do Senhor em nossas despedidas.
Ratifiquemos, irmãos, nossos compromissos de trabalho e testemunho. Em tão
pequeno trecho dos Provérbios encontramos muitos verbos que interessam os
espíritos cristãos. Aceitar os mandamentos divinos e guardá-los, tornar o
ouvido atento e o coração esclarecido, pedir entendimento e inteligência
alçando a voz acima dos objetivos inferiores, buscar os tesouros do Cristo e
procurar-lhe o programa de serviços, representa o esforço nobre daquele que, de
fato, deseja a Divina Sabedoria. Não esqueçamos esses deveres.
Como a pausa
se fizesse. mais longa, um Irmão rogou ao querido amigo prosseguisse na
interpretação do texto, mas Aniceto replicou em tom fraternal:
— Por agora, meu irmão, não é mais possível.
Outras obrigações nos chamam de longe.
E,
dirigindo-se particularmente a Vicente e a mim, acentuou:
(1) Provérbios, 2:1-5. — (Nota do Autor espiritual.)
— Já que voltaremos pela estrada comum, poderemos
esperar por nossa amiga Isabel, para apresentar-lhe nossos agradecimentos e
despedidas.
Daí a
momentos, a nobre companheira de Isidoro, abandonando o corpo ao repouso do
sono, veio até nós, junto do esposo espiritual, atendendo ao convite mental do
nosso dedicado orientador. Aniceto exprimiu-lhe profundo reconhecimento, falou-lhe
da nossa alegria, das oportunidades santas do serviço que a bondade divina nos
havia proporcionado.
Dona Isabel
agradeceu, comovidamente, deixando transparecer as lágrimas da gratidão que
lhe dominava o espírito.
— Nobre Aniceto — disse enxugando os olhos —, se
for possível, voltai sempre ao nosso modesto lar. Ensinai-me a paciência e a
coragem, generoso amigo! Quando puderdes, não me deixeis transviar nos
deveres de mãe, tão difíceis de cumprir na carne, onde os int
eresses menos
dignos se entrechocam com violência. Amparai-me as obrigações de serva do
Evangelho de nosso Senhor! Por vezes, profundas saudades da família espiritual
me dilaceram o coração... desejaria arrebatar meus filhos à esfera superior,
incliná-los ao bem, para que a nossa união divina não tarde nos planos mais
altos da vida. E essas saudades de “Nosso Lar” me pungem a alma, ameaçando, por
vezes, minha tarefa humilde na Terra. Nobre Aniceto, não vos esqueçais desta
amiga pobre e imperfeita. Sei que Isidoro me segue passo a passo, mas ele e eu
precisamos de amigos fortes na fé, como vós, que nos reavivem o bom ânimo na
jornada dos deveres cristãos!...
A irmã Isabel
não pôde continuar, porque o pranto lhe embargara a voz. Aniceto, de olhos
brilhantes e serenos, enlaçou-a como pai e falou, brandamente:
— Isabel,
segue em teus testemunhos e não temas. Estaremos contigo, agora e sempre.
Muitas criaturas admiráveis tiveram a tarefa, mas não esqueçamos, filha, que
Jesus teve a tarefa e o sacrifício no mundo. Não nos faltará no caminho redentor
o terno cuidado do Guia Vigilante. Tem bom ânimo e caminha!
Em seguida,
olhando-nos a todos, de frente, o nobre amigo exclamou:
— Agora, irmãos, auxiliem-me a orar!
E conservando
Isabel e Isidoro, unidos ao seu coração, Aniceto fixou os olhos no alto e falou
com sublime beleza:
“Senhor,
ensina-nos a receber as bênçãos do serviço! Ainda não sabemos, Amado Jesus,
compreender a extensão do trabalho que nos confiaste! Permite, Senhor, possamos
formar em nossa alma a convicção de que a Obra do Mundo te pertence, a fim de
que a vaidade não se insinue em nossos corações com as aparências do bem!
Dá-nos, Mestre, o espírito de consagração aos nossos deveres e
desapego aos resultados que pertencem ao teu amor!
Ensina-nos a agir sem as algemas das paixões, para que reconheçamos os
teus santos objetivos!
Senhor Amorável, ajuda-nos a ser teus leais servidores, Amoroso, concede-nos, ainda, as tuas lições,
Juiz Reto, conduze-nos aos caminhos direitos,
Médico Sublime, restaura-nos a saúde,
Pastor Compassivo, guia-nos à frente das águas vivas,
Engenheiro Sábio, dá-nos teu roteiro,
Administrador Generoso, inspira-nos a tarefa,
Semeador do Bem, ensina-nos a cultivar o campo de nossas almas,
Carpinteiro Divino, auxilia-nos a
construir nossa casa eterna, Oleiro Cuidadoso, corrige-nos o vaso do coração,
Amigo Desvelado, sê
Indulgente, ainda, para com as nossas fraquezas,
Príncipe da Paz,
compadece-te de nosso espírito frágil, abre nossos olhos e mostra-nos a estrada
de teu Reino!”
Aniceto calou-se comovido, e, de olhos húmidos,
contendo a custo as lágrimas do meu reconhecimento, incorporei-me à nobre
caravana que seguiria connosco de regresso a “Nosso Lar”.
31
Cecília ao órgão
Poucas vezes,
no circulo carnal, tivera o prazer de assistir a reunião tão seleta.
Todos os
lustres estavam magnificamente acesos e, lá fora, as grandes árvores,
docemente agitadas pelo vento brando, pareciam refletir o clarão lunar. Pares
graciosos passeavam ao longo da varanda e das escadarias extensas. O castelo
enchera-se de alegria, com a crescente multiplicação de convidados, O
administrador mostrava-se orgulhoso de confraternizar com os colaboradores
diretos da sua obra, na recepção condigna aos amigos da colônia próxima. O
júbilo transparecia em todos os rostos, e eu, observando a beleza do
espetáculo, meditava na ventura da vida social, no ambiente daqueles que
começavam a compreender e praticar o “amái-vos uns aos outros”, distanciados da
hipocrisia e das convenções aviltantes.
Conversávamos,
animadamente, quando Alfredo nos convidou para o Salão de Música.
Houve geral
contentamento. A senhora Bacelar, dando o braço à nobre Ismália, parecia encantada
com a lembrança.
Dirigimo-nos
para o grande recinto, prodigiosamente iluminado por luzes de um azul doce e
brilhante. Deliciosa música embalava-nos a alma. Observei, então, que um coro
de pequenos musicantes executava harmoniosa peça, ladeando um grande órgão,
algo diferente dos que conhecemos na Terra. Oitenta crianças, meninos e
meninas, surgiam, ali, num quadro vivo, encantador. Cinqüenta tangiam
instrumentos de corda e trinta conservavam-se, graciosamente, em posição de
canto.. Executavam, com maravilhosa perfeição, uma linda barcarola que eu
nunca ouvira no mundo.
Comovidíssimo,
ouvi o administrador explicar:
— As crianças do Posto São as nossas flores vivas.
Dão-nos perfume, encantamento, alegria, suavizando-nos todos os trabalhos.
Abeiramo-nos
do órgão, sentando-nos todos em confortáveis poltronas.
Quando as
crianças terminaram, sob aplausos calorosos, Ismália pediu a Cecília executasse
alguma coisa.
— Eu? — disse a jovem, corando — se a senhora vem
das altas esferas, onde a harmonia é santificada e pura, como poderei executar
para os seus ouvidos?
— Não diga isso, Cecilia — tornou, sorridente, a
generosa esposa do administrador —, a música elevada é sublime em toda parte.
Vá, minha filha! lembre-me o lar terreno nos dias mais belos!...
E, antes que
a jovem Bacelar perguntasse qual a peça preferida, Ismália continuou:
— Os serviços musicais do Posto levam-me a
recordar a velha Fazenda, quando voltava do Internato... Meus pais estimavam as
composições européias e, quase todas as noites, ensaiava ao piano...
E, fixando em
Cecília os olhos úmidos e brilhantes, rematou:
— Sua mamãe deve lembrar comigo a música
predileta de meu velho e carinhoso pai...
Notei que a
senhora Bacelar disse alguma coisa à filha, em voz baixa, e vimos Cecilia
caminhar para o grande instrumento, sem hesitação. Com emoção indizível,
ouvimo-la executar, magistralmente, a ‘Tocata e Fuga em Ré Menor”, de Bach,
acompanhada pelas crianças exultantes.
Fixei o rosto
de Ismália, notando, pela luz do seu olhar, que seus pensamentos vagueavam
longe, talvez em torno do antigo ninho doméstico. Vi-a enxugar as lágrimas
discretas e abraçar Cecília carinhosamente, ao findar a execução.
— Agora, Cecilia,
cante alguma canção da própria alma! — falou a nobre senhora com ternuras de
mãe — mostre-nos seu coração...
Os senhores
Bacelar estavam satisfeitos e emocionados. Lia-se-lhes nos gestos o carinho
com que acompanhavam os menores movimentos da filha.
A jovem
sorriu, voltou ao teclado, mas permanecia, agora, fundamente transfigurada.
Seu belo semblante parecia refletir alguma luz diferente, que vinha de mais
alto. Começou a cantar, de maneira misteriosa e comovedora. A música parecia
sair-lhe das profundezas do coração, mergulhando-nos em sublime emotividade.
Procurei guardar as palavras da maravilhosa canção, mas seria impossível
repetí-las integralmente, no círculo dos encarnados na Terra. A sombra da
meia-noite não poderia traduzir o revérbero da aurora. Mas de algo me lembro,
para registrar aqui, com a fidelidade de que é suscetível minha memória
imperfeita.
Como se fôra
rodeada de claridades diversas daquela em que nos banhávamos, Cecilia cantou
com voz veludosa e cariciante:
«Guardei para os teus olhos
As estrelas
brilhantes do céu calmo...
Guardei para tua
alma
Todos os lírios
puros dos caminhos!...
Amado meu, amado
meu,
Como é longa a
viagem entre escolhos
Neste oceano
imenso da saudade,
Ao sublime luar da eternidade!...
Em vão, a fada
Esperança
Acende a luz dentro
de mim...
Porque te foste ao
mundo, assim?
Volta, amado!
Ainda mesmo
Que as tuas
mãos estejam frias
E que teus pés sangrem de
dor.
Trago comigo o bálsamo, a
ternura,
Volta a mim,
Vem respirar, de novo, no
jardim
Da Imortal união!...
Curarei tuas chagas de
amargura,
Dar-te-ei o roteiro para a
estrada,
Amarei os que amas,
Para que me abençoes com o
teu sorriso.
Volta, amado!
Esquece a dor e a sombra
do passado,
Volta, de novo, ao nosso
paraíso!...»
Quando
desferiu as últimas notas, vi-lhe o semblante lavado em lágrimas, como se fôra
banhado em pérolas de luz. Observei que a senhora Bacelar, muitíssimo
comovida, tocou de leve a mão de Ismália, e falou:
— Cecília
nunca o esquece.
A esposa do
administrador, mostrando-se extremamente sensibilizada, indagou:
— Não têm
vocês novas notícias de Hermínio?
— O
pobrezinho tem vivido de queda em queda — esclareceu a nobre interlocutora — e
Cecília sabe que não poderá contar com ele, por muito tempo ainda, guardando,
por esse motivo, muita mágoa Intima. Entretanto, nossa filha não desanima e
trabalha, incessantemente, cheia de esperança.
Nesse
momento, porém, a jovem regressava ao círculo familiar, enxugando os olhos.
A esposa de
Alfredo abraçou-a e falou:
— Minhas
felicitações! não sabia que você progredira tanto na arte divina! E que bela
canção!...
Cecília fez um gesto de timidez, beijou a mão da
carinhosa amiga e retrucou:
— Perdoe-me,
querida Ismália, meu coração permanece ainda muito ligado à Terra!...
Ismália, porém, de olhos húmidos e compreendendo-lhe
o sofrimento intimo, conchegou-a ao peito e murmurou:
— Devotar-se não
é crime, minha boa Cecilia. O amor é luz de Deus, ainda mesmo quando resplandeça
no fundo do abismo.
32
Melodia sublime
Num gesto
nobre, Aniceto pediu a Ismália que executasse algum motivo musical de sua
elevada esfera.
A esposa de
Alfredo não se fez rogada. Com extrema bondade, sentou-se ao órgão, falando,
gentil:
— Ofereço a
melodia ao nosso caro Aniceto.
E, ante nossa
admiração comovida, começou a tocar maravilhosamente. Logo às primeiras notas,
alguma coisa me arrebatava ao sublime. Estávamos extasiados, silenciosos. A
melodia, tecida em misteriosa beleza, inundava-nos o espírito em torrentes de
harmonia divina. Penetrava-me o coração um campo de vibrações suavíssimas,
quando fui surpreendido por percepções absolutamente inesperadas. Com assombro
indefinível, reparei que a esposa de Alfredo não cantava, mas no seio caricioso
da música havia uma prece que atingia o sublime — oração que eu não escutava com os ouvidos mas
recebia em cheio na alma, através de vibrações sutis, como se o melodioso som
estivesse impregnado do verbo silencioso e criador. As notas de louvor
alcançavam-me o âmago do espírito, arrancando-me lágrimas de intraduzível
emotividade:
“O Senhor Supremo de Todos
os Mundos
E de Todos os Seres,
Recebe, Senhor,
O nosso agradecimento
De filhos devedores do teu
amor!
Dá-nos tua bênção.
Ampara-nos a esperança,
Ajuda-nos o ideal
Na estrada Imensa da
vida...
Seja para o teu coração,
Cada dia,
Nosso primeiro pensamento
de amor!
Seja para tua bondade
Nossa alegria de viver!...
Pai de amor infinito
Dá-nos tua mão generosa e
santa.
Longo é o caminho.
Grande o nosso débito,
Mas inesgotável é a nossa
esperança.
Pai Amado,
Somos as tuas criaturas,
Raios divinos
De tua Divina
inteligência.
Ensina-nos a descobrir
Os tesouros imensos
Que guardaste
Nas profundezas de nossa
vida,
Auxilia-nos a acender
A lâmpada sublime
Da Sublime Procura!
Senhor,
Caminhamos contigo
Na eternidade!...
Em Ti nos movemos para
sempre.
Abençoa-nos a senda,
Indica-nos a Sagrada
Realização.
E que a glória
eterna
Seja em teu eterno
trono!...
Resplandeça contigo a
Infinita Luz,
Mane em teu coração
misericordioso
A Soberana Fonte do Amor,
Cante em tua Criação
Infinita
O sopro divino da
eternidade.
Seja a tua bênção
Claridade aos nossos
olhos,
Harmonia ao nosso ouvido,
Movimento às nossas mãos,
Impulso aos nossos pés.
No amor sublime da Terra e
dos Céus!...
Na beleza de todas as
vidas,
Na progressão de todas as
coisas,
Na voz de todos os seres,
Glorificado sejas para
sempre,
Senhor.”
Que melodia
era aquela que se ouvia através de sons inarticulados? Não pude conter as lágrimas
abundantes. Cecilia comovera-nos a sensibilidade. lembrando as harmonias
terrenas e os afetos humanos. Ismália, no entanto, arrebatava-nos o Espírito, elevando-nos ao Supremo
Pai. Nunca ouvira oração de louvor como aquela! Além disso, a esposa de
Alfredo glorificava o Senhor de maneira diferente, inexprimível na linguagem
humana. A prece tocara-me as recônditas fibras do coração e reconhecia que
nunca meditara na grandeza divina, como naquele instante em que uma alma
santificada falava de Deus, com a maravilha de suas riquezas espirituais.
E não era só
eu a chorar como criança. Aniceto enxugava os olhos, de maneira discreta, e
algumas senhoras levavam o lenço ao rosto.
Compreendi
que a oração terminara, porque a música mudou de expressão. O caráter heroico
cedeu lugar a lirismo encantador. Experimentando a profunda serenidade
ambiente, vi que luzes prodigiosas jorravam do Alto sobre a fronte de Ismália,
envolvendo-a num arco irisado de efeito magnético e, com admiração e enlevo,
observei que belas flores azuis partiam do coração da musicista, espalhando-se
sobre nós. Desfaziam-se como se feitas de caridosa bruma anilada, ao tocar-nos,
de leve, enchendo-nos de profunda alegria. A maior parte caía sobre Aniceto,
fazendo-nos recordar as palavras amigas da dedicatória. Impressionavam-me
profundamente aquelas corolas fluídicas, de sublime azul-celeste, multiplicando-se,
sem cessar, no ambiente, e penetrando-nos o coração como pétalas constituídas
apenas de colorido perfume. Sentia-me tão alegre, experimentava tamanho bom
ânimo que não conseguiria traduzir as emoções do momento.
Mais alguns
minutos e Ismália terminou a magistral melodia.
A esposa do
administrador desceu até nós, coroada de intensa luz.
Alfredo
avançou, beijando-a no rosto, ao mesmo tempo que Aniceto lhe estendia a
destra, agradecido.
— Há muito
tempo não ouvia músicas tão sublimes como as desta noite — exclamou nosso
orientador, sorrindo. Cecília falou-nos do sublime amor terrestre, Ismália
arrebatou-nos ao divino amor celestial. Idéia feliz a de permanecermos no
Posto! Fomos igualmente socorridos pela luz da amizade, que nos revigorou o bom
ânimo!
Aproximaram-se
os Bacelares, eminentemente comovidos.
— Que
maravilhosas flores nos deste, querida amiga! — disse a mãezinha de Cecilia,
abraçando a esposa de Alfredo.
— Voltaremos
ao trabalho, repletos de energia nova! — acrescentou o senhor Bacelar, sorridente.
A extensa
sala estava cheia de notas de reconhecimento e júbilo sincero. A melodia de
Ismália constituira singular presente do Céu. A alegria e o bom ânimo
transpiravam em todos os rostos.
Observando
que Aniceto se retirava para um canto do salão, procurei-o, ansioso. Desejava
esclarecer o fenômeno da prece sem palavras, das harmonias, das luzes e das
flores. Antes, porém, das interpelações do aprendiz, o orientador amigo sorriu,
amável, e explicou:
— Conheço a
sua sêde, André. Não precisa perguntar. Impressionou-se você com a grandeza
espiritual da nobre companheira do nosso amigo. Não precisarei alinhar
esclarecimentos. Recorda-se de Ana, a infeliz criatura que dorme nos pavilhões,
entre pesadelos cruéis? Lembra-se de Paulo, o caluniador? Não os viu
carregando pesados fardos mentais? Cada um de nós traz, nos caminhos da vida,
os arquivos de si mesmo. Enquanto os maus exibem o inferno que criaram para o
Intimo, os bons revelam o paraíso que edificaram no próprio coração. Ismália já
amontoou muitos tesouros que as traças não roem. Ela já pode dar da infinita
harmonia a que se devotou pela bondade e pelo divino amor. A luz que vimos é a
mesma que jorra do plano superior, de maneira incessante, inundando os
caminhos da vida, mas a melodia, a prece e as flores constituem sublime criação
dessa alma santificada. Ela repartiu connosco, neste momento, uma parte dos
seus tesouros eternos! Peçamos ao Senhor, meu amigo, que não tenhamos recebido
em vão as sublimes dádivas!
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