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sábado, 29 de novembro de 2014

Palestra do 24 de Outubro


Devemos recorrer mais vezes a Deus do que ao físico.
Vivam para Deus ou então vivam para o homem.
Obsessores
Os obsessores do plano físico por vezes continuam no plano espiritual , ex.: entidades negativas que se vê atormentando André Luiz quando este está no Umbral no filme nosso lar.
Eram obsessores que atormentavam ele quando ia nos bares , por alguma razão os obsessores o culpam.
Também fazemos sofrer os obsessores se em vez de ajudar-mos , incentivarmos mais.
Estavam a dizer-lhe sai-a de aqui pois não queriam a presença dele , pois fez-lhes de alguma forma mal.
Outra justificação seria que quando estava vivo tentaram leva-lo para outros caminhos mais sombrios sem sucesso, podem não estar contentes à causa disso.
André Luiz
Quando chegou ao Nosso Lar os superiores sabiam no que André Luiz se podia tornar.
Mais tarde André Luiz se tornou um mensageiro , mas sobretudo médico espiritual.
Socorreu um dia, quando em aprendizagem um moço que se chamava Fernando , estava muito doente , com lepra.
O superior , Aniseto , que conseguia por ele só fazer raio x, durante esse trabalho deu possibilidade a André Luiz e a Vincente ,  igualmente médico desencarnado,  de verem o mesmo que ele .
Conseguiram ver a forma como a doença estava a atuar no corpo , nos menores pormenores.
Os familiares de Fernando queriam que o moço vivesse quando já não havia possibilidades para tal.
Muitas vezes os laços de maternidade devem ser cortados para removerem o espírito do interior do corpo.
É necessário cortar correntes familiares durante o desencarne pois essa energia não é favorável porque contribui com que o espirito persista no corpo quando este tem que ser liberto.
Acabaram por ter que desencarnar a pessoa.
O médico físico disse que ele estava melhorando , mandou abrir a janela , para renovar o ar.
Foram melhoras da mente para quem estava perto do doente se ausentar de modo às entidades puderam trabalhar.
Muitas vezes a própria pessoa que esta para morrer diz “vai descansar , vai embora , estou bem ”.
Vamos ter muito tempo de ficar na eternidade com as pessoas. Temos que saber liberta-las quando a hora chega.
Quando a abertura da janela , André Luiz olhou para trás e viu duas entidades com forma satânica.
Estavam na janela , perguntando alto “Fernando vem ou não vem?” , essas entidades eram testemunhas do moço, ou seja tinham presenciado certas coisas que o moço tinha feito de errado durante a vida.                                                               O Superior , olhou para eles com um olhar que as afastou. A mãe do moço doente , que já estava morta esteve presente, disse que gostava mas que não poderia ficar. A mãe não podia ficar com ele porque estava na zona superior e ele ia para o Umbral.
Assim que Aniceto procedeu ao desligamento do corpo espiritual , a mãe se afastou e foi embora. Eles encaminharam o moço numa Camara onde as entidades negativas vão, até perceberem o que tinha feito de mal, para em seguida libertarem no Umbral. Foi ai que André Luiz e Vincente , perceberam que a medicina que eles conheceram na terra , nada era comparado ao que Aniseto conseguia fazer. Perceberam então a diferença entre médico físico e espiritual.
A medicina espiritual consiste em raciocínios e sentimentos novos , novos métodos de trabalho, com o objetivo de estabelecer a saúde do espírito imortal.


Durante a palestra , foram lidos no recinto certos capítulos de Os Mensageiros , de Chico Xavier , aqui transcritos.

51
Nas despedidas

Depois de outras atividades espirituais nume­rosas, findou a semana de serviço a que Aniceto nos admitira em sua companhia.
Seguíramos o nobre instrutor, através de tare­fas variadas e complexas. Sediados no templo acolhedor de Isabel, atendêramos a considerável número de doentes, bem como a irmãos outros perturbados, abatidos, transviados e moribundos. Nosso orientador tinha, para todos os casos, mara­vilhosos recursos de improvisação, sempre aten­cioso e otimista.
Aqueles poucos dias de trabalho novo enche­ram-me o cérebro de raciocínios novos e o coração de sentimentos que até então desconhecera.
Ao contacto das revelações de Aniceto, nos do­mínios da eletricidade e do magnetismo, reformara todos os meus antigos conhecimentos de medicina. A ascendência mental no equilíbrio orgânico, as forças radioativas, o campo das bactérias, a visão mais ampla da matéria organizada, compeliam-me a nova conceituação científica na arte de curar os corpos enfermos.
Alargara-se, sobretudo, em minha alma, o enten­dimento acerca do Médico Divino que restabelece a saúde do Espírito imortal. A claridade extensa, que me felicitava agora o espírito, fornecia mais largo conhecimento de Jesus. Compreendi, então, que a fé não constitui uma afirmativa de lábios, nem uma adesão de ordem estatística. Procurá-la-ia, em vão, na esfera sectária, nas disputas vulgares, nos cultos exteriores alteráveis todos os dias. Era, sim, uma fonte de água viva, nascendo espontaneamente em minha alma. Traduzia-se em reverência profunda, aliada ao mais alto conceito de serviço e responsabilidade, diante das sublimes concessões do Eterno Pai. Encontrara um tesouro inacessível à destruição e um bem Intransferível, por nascido e consolidado em mim mesmo.
Quando o instrutor nos convidou a regressar, sentia-me positivamente outro. Guardava a impres­são de haver encontrado as notícias diretas do Senhor Jesus, na descoberta do meu próprio mundo interior.
Como poderia pagar ao prestimoso Aniceto se­melhante capitalização de bens imortais?
Havia terminado o serviço de orações, na úl­tima reunião semanal da residência de Isidoro e Isabel.
Os trabalhos, sempre ativos, haviam represen­tado esfera de observações e experiências sempre novas.
Grande número de amigos de Aniceto acerca­ram-se do instrutor, ansiosos por partilharem a luz da conversação de despedidas.
O devotado orientador oferecia a todos a sua palavra de bom ânimo, otimismo, alegria e confian­ça no Senhor, como um príncipe de legenda, cuja boca fosse fonte inesgotável de ouro espiritual.
Vicente e eu tínhamos os olhos húmidos, dese­josos de externar-lhe verbalmente nosso reconhecimento pelas bênçãos recolhidas; mas, ao nos aproximarmos, o abnegado orientador sorriu e an­tecipou:
— Agradeçam a Jesus pelo muito que nos tem dado.
E tomando a Bíblia, como Interessado em fixar o assunto geral no amor às coisas santificadas, leu em voz alta, no capítulo segundo dos Provérbios de Salomão:
“Filho meu, se aceitares as minhas pala­vras e guardares contigo os meus mandamentos, para fazeres atento à sabedoria o teu ouvido e para inclinares o teu coração ao entendimento; e se clamares por entendimento, e por inteligência al­çares a tua voz, se como a prata a buscares e como a tesouros ocultos a procurares, então entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus.” (1)
Deixou em seguida o livro sagrado sobre a mesa, e sentenciou:
Lembremo-nos do Senhor em nossas despe­didas. Ratifiquemos, irmãos, nossos compromissos de trabalho e testemunho. Em tão pequeno trecho dos Provérbios encontramos muitos verbos que in­teressam os espíritos cristãos. Aceitar os man­damentos divinos e guardá-los, tornar o ouvido atento e o coração esclarecido, pedir entendimento e inteligência alçando a voz acima dos objetivos inferiores, buscar os tesouros do Cristo e procurar-lhe o programa de serviços, representa o esforço nobre daquele que, de fato, deseja a Divina Sabe­doria. Não esqueçamos esses deveres.
Como a pausa se fizesse. mais longa, um Irmão rogou ao querido amigo prosseguisse na interpre­tação do texto, mas Aniceto replicou em tom fra­ternal:
Por agora, meu irmão, não é mais possível. Outras obrigações nos chamam de longe.
E, dirigindo-se particularmente a Vicente e a mim, acentuou:

(1)  Provérbios, 2:1-5. — (Nota do Autor espiritual.)

Já que voltaremos pela estrada comum, po­deremos esperar por nossa amiga Isabel, para apre­sentar-lhe nossos agradecimentos e despedidas.
Daí a momentos, a nobre companheira de Isi­doro, abandonando o corpo ao repouso do sono, veio até nós, junto do esposo espiritual, atendendo ao convite mental do nosso dedicado orientador. Aniceto exprimiu-lhe profundo reconhecimento, fa­lou-lhe da nossa alegria, das oportunidades santas do serviço que a bondade divina nos havia pro­porcionado.
Dona Isabel agradeceu, comovidamente, dei­xando transparecer as lágrimas da gratidão que lhe dominava o espírito.
Nobre Aniceto — disse enxugando os olhos —, se for possível, voltai sempre ao nosso mo­desto lar. Ensinai-me a paciência e a coragem, gene­roso amigo! Quando puderdes, não me deixeis trans­viar nos deveres de mãe, tão difíceis de cumprir na carne, onde os int
eresses menos dignos se entre­chocam com violência. Amparai-me as obrigações de serva do Evangelho de nosso Senhor! Por vezes, profundas saudades da família espiritual me dila­ceram o coração... desejaria arrebatar meus filhos à esfera superior, incliná-los ao bem, para que a nossa união divina não tarde nos planos mais altos da vida. E essas saudades de “Nosso Lar” me pungem a alma, ameaçando, por vezes, minha tarefa humilde na Terra. Nobre Aniceto, não vos esque­çais desta amiga pobre e imperfeita. Sei que Isi­doro me segue passo a passo, mas ele e eu preci­samos de amigos fortes na fé, como vós, que nos reavivem o bom ânimo na jornada dos deveres cristãos!...
A irmã Isabel não pôde continuar, porque o pranto lhe embargara a voz. Aniceto, de olhos brilhantes e serenos, enlaçou-a como pai e falou, brandamente:
— Isabel, segue em teus testemunhos e não temas. Estaremos contigo, agora e sempre. Muitas criaturas admiráveis tiveram a tarefa, mas não es­queçamos, filha, que Jesus teve a tarefa e o sacrifício no mundo. Não nos faltará no caminho re­dentor o terno cuidado do Guia Vigilante. Tem bom ânimo e caminha!
Em seguida, olhando-nos a todos, de frente, o nobre amigo exclamou:
— Agora, irmãos, auxiliem-me a orar!
E conservando Isabel e Isidoro, unidos ao seu coração, Aniceto fixou os olhos no alto e falou com sublime beleza:

“Senhor, ensina-nos a receber as bênçãos do ser­viço! Ainda não sabemos, Amado Jesus, compreender a extensão do trabalho que nos confiaste! Permite, Senhor, possamos formar em nossa alma a convicção de que a Obra do Mundo te pertence, a fim de que a vaidade não se insinue em nossos corações com as aparências do bem!
Dá-nos, Mestre, o espírito de consagração aos nos­sos deveres e desapego aos resultados que pertencem ao teu amor!
Ensina-nos a agir sem as algemas das paixões, para que reconheçamos os teus santos objetivos!
Senhor Amorável, ajuda-nos a ser teus leais ser­vidores,  Amoroso, concede-nos, ainda, as tuas lições, Juiz Reto, conduze-nos aos caminhos direitos,
Médico Sublime, restaura-nos a saúde,
Pastor Compassivo, guia-nos à frente das águas vivas,
Engenheiro Sábio, dá-nos teu roteiro,
Administrador Generoso, inspira-nos a tarefa,
Semeador do Bem, ensina-nos a cultivar o campo de nossas almas,
      Carpinteiro Divino, auxilia-nos a construir nossa casa eterna, Oleiro Cuidadoso, corrige-nos o vaso do coração,
Amigo Desvelado, sê Indulgente, ainda, para com as nossas fraquezas,
Príncipe da Paz, compadece-te de nosso espírito frágil, abre nossos olhos e mostra-nos a estrada de teu Reino!”

Aniceto calou-se comovido, e, de olhos húmi­dos, contendo a custo as lágrimas do meu reconhecimento, incorporei-me à nobre caravana que seguiria connosco de regresso a “Nosso Lar”.


31
Cecília ao órgão

Poucas vezes, no circulo carnal, tivera o prazer de assistir a reunião tão seleta.
Todos os lustres estavam magnificamente ace­sos e, lá fora, as grandes árvores, docemente agitadas pelo vento brando, pareciam refletir o clarão lunar. Pares graciosos passeavam ao longo da va­randa e das escadarias extensas. O castelo enche­ra-se de alegria, com a crescente multiplicação de convidados, O administrador mostrava-se orgulhoso de confraternizar com os colaboradores diretos da sua obra, na recepção condigna aos amigos da co­lônia próxima. O júbilo transparecia em todos os rostos, e eu, observando a beleza do espetáculo, meditava na ventura da vida social, no ambiente daqueles que começavam a compreender e praticar o “amái-vos uns aos outros”, distanciados da hipo­crisia e das convenções aviltantes.
Conversávamos, animadamente, quando Alfre­do nos convidou para o Salão de Música.
Houve geral contentamento. A senhora Bace­lar, dando o braço à nobre Ismália, parecia encan­tada com a lembrança.
Dirigimo-nos para o grande recinto, prodigio­samente iluminado por luzes de um azul doce e brilhante. Deliciosa música embalava-nos a alma. Observei, então, que um coro de pequenos musi­cantes executava harmoniosa peça, ladeando um grande órgão, algo diferente dos que conhecemos na Terra. Oitenta crianças, meninos e meninas, surgiam, ali, num quadro vivo, encantador. Cinqüen­ta tangiam instrumentos de corda e trinta conser­vavam-se, graciosamente, em posição de canto.. Executavam, com maravilhosa perfeição, uma lin­da barcarola que eu nunca ouvira no mundo.
Comovidíssimo, ouvi o administrador explicar:
As crianças do Posto São as nossas flo­res vivas. Dão-nos perfume, encantamento, alegria, suavizando-nos todos os trabalhos.
Abeiramo-nos do órgão, sentando-nos todos em confortáveis poltronas.
Quando as crianças terminaram, sob aplausos calorosos, Ismália pediu a Cecília executasse algu­ma coisa.
Eu? — disse a jovem, corando — se a senhora vem das altas esferas, onde a harmonia é santificada e pura, como poderei executar para os seus ouvidos?
Não diga isso, Cecilia — tornou, sorridente, a generosa esposa do administrador —, a música elevada é sublime em toda parte. Vá, minha filha! lembre-me o lar terreno nos dias mais belos!...
E, antes que a jovem Bacelar perguntasse qual a peça preferida, Ismália continuou:
Os serviços musicais do Posto levam-me a recordar a velha Fazenda, quando voltava do Internato... Meus pais estimavam as composições européias e, quase todas as noites, ensaiava ao piano...
E, fixando em Cecília os olhos úmidos e bri­lhantes, rematou:
Sua mamãe deve lembrar comigo a música predileta de meu velho e carinhoso pai...
Notei que a senhora Bacelar disse alguma coi­sa à filha, em voz baixa, e vimos Cecilia caminhar para o grande instrumento, sem hesitação. Com emoção indizível, ouvimo-la executar, magistralmen­te, a ‘Tocata e Fuga em Ré Menor”, de Bach, acompanhada pelas crianças exultantes.
Fixei o rosto de Ismália, notando, pela luz do seu olhar, que seus pensamentos vagueavam longe, talvez em torno do antigo ninho doméstico. Vi-a enxugar as lágrimas discretas e abraçar Cecília carinhosamente, ao findar a execução.
— Agora, Cecilia, cante alguma canção da pró­pria alma! — falou a nobre senhora com ternuras de mãe — mostre-nos seu coração...
Os senhores Bacelar estavam satisfeitos e emo­cionados. Lia-se-lhes nos gestos o carinho com que acompanhavam os menores movimentos da filha.
A jovem sorriu, voltou ao teclado, mas per­manecia, agora, fundamente transfigurada. Seu belo semblante parecia refletir alguma luz diferente, que vinha de mais alto. Começou a cantar, de maneira misteriosa e comovedora. A música parecia sair-lhe das profundezas do coração, mergulhando-nos em sublime emotividade. Procurei guardar as pa­lavras da maravilhosa canção, mas seria impossível repetí-las integralmente, no círculo dos encarna­dos na Terra. A sombra da meia-noite não poderia traduzir o revérbero da aurora. Mas de algo me lembro, para registrar aqui, com a fidelidade de que é suscetível minha memória imperfeita.
Como se fôra rodeada de claridades diversas daquela em que nos banhávamos, Cecilia cantou com voz veludosa e cariciante:

«Guardei para os teus olhos
As estrelas brilhantes do céu calmo...

Guardei para tua alma
Todos os lírios puros dos caminhos!...
Amado meu, amado meu,
Como é longa a viagem entre escolhos
Neste oceano imenso da saudade,
Ao sublime luar da eternidade!...
Em vão, a fada Esperança
Acende a luz dentro de mim...
Porque te foste ao mundo, assim?

Volta, amado!
Ainda mesmo
Que as tuas mãos estejam frias
E que teus pés sangrem de dor.

Trago comigo o bálsamo, a ternura,
Volta a mim,
Vem respirar, de novo, no jardim
Da Imortal união!...

Curarei tuas chagas de amargura,
Dar-te-ei o roteiro para a estrada,
Amarei os que amas,
Para que me abençoes com o teu sorriso.
Volta, amado!
Esquece a dor e a sombra do passado,
Volta, de novo, ao nosso paraíso!...»

Quando desferiu as últimas notas, vi-lhe o sem­blante lavado em lágrimas, como se fôra banhado em pérolas de luz. Observei que a senhora Bace­lar, muitíssimo comovida, tocou de leve a mão de Ismália, e falou:
— Cecília nunca o esquece.
A esposa do administrador, mostrando-se ex­tremamente sensibilizada, indagou:
— Não têm vocês novas notícias de Hermínio?
— O pobrezinho tem vivido de queda em que­da — esclareceu a nobre interlocutora — e Cecília sabe que não poderá contar com ele, por muito tempo ainda, guardando, por esse motivo, muita mágoa Intima. Entretanto, nossa filha não desani­ma e trabalha, incessantemente, cheia de esperança.
Nesse momento, porém, a jovem regressava ao círculo familiar, enxugando os olhos.
A esposa de Alfredo abraçou-a e falou:
Minhas felicitações! não sabia que você pro­gredira tanto na arte divina! E que bela canção!...
Cecília fez um gesto de timidez, beijou a mão da carinhosa amiga e retrucou:
Perdoe-me, querida Ismália, meu coração permanece ainda muito ligado à Terra!...
Ismália, porém, de olhos húmidos e compreen­dendo-lhe o sofrimento intimo, conchegou-a ao pei­to e murmurou:
Devotar-se não é crime, minha boa Cecilia. O amor é luz de Deus, ainda mesmo quando res­plandeça no fundo do abismo.


32
Melodia sublime

Num gesto nobre, Aniceto pediu a Ismália que executasse algum motivo musical de sua elevada esfera.
A esposa de Alfredo não se fez rogada. Com extrema bondade, sentou-se ao órgão, falando, gentil:
— Ofereço a melodia ao nosso caro Aniceto.
E, ante nossa admiração comovida, começou a tocar maravilhosamente. Logo às primeiras no­tas, alguma coisa me arrebatava ao sublime. Está­vamos extasiados, silenciosos. A melodia, tecida em misteriosa beleza, inundava-nos o espírito em torrentes de harmonia divina. Penetrava-me o co­ração um campo de vibrações suavíssimas, quan­do fui surpreendido por percepções absolutamente inesperadas. Com assombro indefinível, reparei que a esposa de Alfredo não cantava, mas no seio ca­ricioso da música havia uma prece que atingia o sublime — oração que eu não escutava com os ouvidos mas recebia em cheio na alma, através de vibrações sutis, como se o melodioso som esti­vesse impregnado do verbo silencioso e criador. As notas de louvor alcançavam-me o âmago do espírito, arrancando-me lágrimas de intraduzível emotividade:

“O Senhor Supremo de Todos os Mundos
E de Todos os Seres,
Recebe, Senhor,
O nosso agradecimento
De filhos devedores do teu amor!

Dá-nos tua bênção.
Ampara-nos a esperança,
Ajuda-nos o ideal
Na estrada Imensa da vida...

Seja para o teu coração,
Cada dia,
Nosso primeiro pensamento de amor!

Seja para tua bondade
Nossa alegria de viver!...

Pai de amor infinito
Dá-nos tua mão generosa e santa.

Longo é o caminho.
Grande o nosso débito,
Mas inesgotável é a nossa esperança.

Pai Amado,
Somos as tuas criaturas,
Raios divinos
De tua Divina inteligência.

Ensina-nos a descobrir
Os tesouros imensos
Que guardaste
Nas profundezas de nossa vida,
Auxilia-nos a acender
A lâmpada sublime
Da Sublime Procura!

Senhor,
Caminhamos contigo
Na eternidade!...
Em Ti nos movemos para sempre.

Abençoa-nos a senda,
Indica-nos a Sagrada Realização.
E que a glória eterna
Seja em teu eterno trono!...

Resplandeça contigo a Infinita Luz,
Mane em teu coração misericordioso
A Soberana Fonte do Amor,
Cante em tua Criação Infinita
O sopro divino da eternidade.

Seja a tua bênção
Claridade aos nossos olhos,
Harmonia ao nosso ouvido,
Movimento às nossas mãos,
Impulso aos nossos pés.

No amor sublime da Terra e dos Céus!...
Na beleza de todas as vidas,
Na progressão de todas as coisas,
Na voz de todos os seres,
Glorificado sejas para sempre,
Senhor.”

Que melodia era aquela que se ouvia através de sons inarticulados? Não pude conter as lágri­mas abundantes. Cecilia comovera-nos a sensibili­dade. lembrando as harmonias terrenas e os afetos humanos. Ismália, no entanto, arrebatava-nos o Espírito, elevando-nos ao Supremo Pai. Nunca ou­vira oração de louvor como aquela! Além disso, a esposa de Alfredo glorificava o Senhor de maneira diferente, inexprimível na linguagem humana. A prece tocara-me as recônditas fibras do coração e reconhecia que nunca meditara na grandeza divina, como naquele instante em que uma alma santifi­cada falava de Deus, com a maravilha de suas riquezas espirituais.
E não era só eu a chorar como criança. Ani­ceto enxugava os olhos, de maneira discreta, e algumas senhoras levavam o lenço ao rosto.
Compreendi que a oração terminara, porque a música mudou de expressão. O caráter heroico cedeu lugar a lirismo encantador. Experimentando a profunda serenidade ambiente, vi que luzes pro­digiosas jorravam do Alto sobre a fronte de Ismá­lia, envolvendo-a num arco irisado de efeito magné­tico e, com admiração e enlevo, observei que belas flores azuis partiam do coração da musicista, es­palhando-se sobre nós. Desfaziam-se como se feitas de caridosa bruma anilada, ao tocar-nos, de leve, enchendo-nos de profunda alegria. A maior parte caía sobre Aniceto, fazendo-nos recordar as pala­vras amigas da dedicatória. Impressionavam-me profundamente aquelas corolas fluídicas, de sublime azul-celeste, multiplicando-se, sem cessar, no am­biente, e penetrando-nos o coração como pétalas constituídas apenas de colorido perfume. Sentia-me tão alegre, experimentava tamanho bom ânimo que não conseguiria traduzir as emoções do momento.
Mais alguns minutos e Ismália terminou a ma­gistral melodia.
A esposa do administrador desceu até nós, coroada de intensa luz.
Alfredo avançou, beijando-a no rosto, ao mes­mo tempo que Aniceto lhe estendia a destra, agra­decido.
— Há muito tempo não ouvia músicas tão sublimes como as desta noite — exclamou nosso orientador, sorrindo. Cecília falou-nos do sublime amor terrestre, Ismália arrebatou-nos ao divino amor celestial. Idéia feliz a de permanecermos no Posto! Fomos igualmente socorridos pela luz da amizade, que nos revigorou o bom ânimo!
Aproximaram-se os Bacelares, eminentemente comovidos.
— Que maravilhosas flores nos deste, querida amiga! — disse a mãezinha de Cecilia, abraçando a esposa de Alfredo.
— Voltaremos ao trabalho, repletos de ener­gia nova! — acrescentou o senhor Bacelar, sorri­dente.
A extensa sala estava cheia de notas de reco­nhecimento e júbilo sincero. A melodia de Ismália constituira singular presente do Céu. A alegria e o bom ânimo transpiravam em todos os rostos.
Observando que Aniceto se retirava para um canto do salão, procurei-o, ansioso. Desejava es­clarecer o fenômeno da prece sem palavras, das harmonias, das luzes e das flores. Antes, porém, das interpelações do aprendiz, o orientador amigo sorriu, amável, e explicou:
— Conheço a sua sêde, André. Não precisa perguntar. Impressionou-se você com a grandeza espiritual da nobre companheira do nosso amigo. Não precisarei alinhar esclarecimentos. Recorda-se de Ana, a infeliz criatura que dorme nos pavilhões, entre pesadelos cruéis? Lembra-se de Paulo, o ca­luniador? Não os viu carregando pesados fardos mentais? Cada um de nós traz, nos caminhos da vida, os arquivos de si mesmo. Enquanto os maus exibem o inferno que criaram para o Intimo, os bons revelam o paraíso que edificaram no próprio coração. Ismália já amontoou muitos tesouros que as traças não roem. Ela já pode dar da infinita harmonia a que se devotou pela bondade e pelo divino amor. A luz que vimos é a mesma que jorra do plano superior, de maneira incessante, inun­dando os caminhos da vida, mas a melodia, a prece e as flores constituem sublime criação dessa alma santificada. Ela repartiu connosco, neste momento, uma parte dos seus tesouros eternos! Peçamos ao Senhor, meu amigo, que não tenhamos recebido em vão as sublimes dádivas!

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